Esse mês eu retornei ao Desafio Literário 2011 (um livro por mês, seguindo temas pré-estabelecidos), que meio que tinha abandonado. No final do ano passado resolvi fazer o desafio, não pelo grande desafio de ler um livro por mês, mas pra vencer outra coisa: estabelecer metas e ser capaz de cumprí-las. E também pra ter um motivo a mais para resenhar os livros lidos, praticando a escrita. Aí, ok, fiz a primeira resenha, História das Invenções. Em fevereiro, não tive vontade de ler O que é isso companheiro?, do Gabeira. E deixei o desafio pra lá. Aí, esse mês, resolvi retornar, naquelas de conseguir cumprir metas pré-estabelecidas. Mandei e-mail pra equipe e elas aceitaram que eu voltasse pro Desafio, daí retomei o mesmo. Li então o livro do tema do mês de junho, Calabar, e o livro do tema de abril, Fundação. Depois publico a resenha do Fundação aqui, vamos ao Calabar primeiro.
Título: Calabar, O Elogio da Traição
Autores: Chico Buarque e Ruy Guerra
Ano de publicação: 1973
Páginas: 95
Não gosto, não gosto mesmo, de começar uma leitura com muitas expectativas. Atrapalha muito. E foi o que aconteceu com Calabar. Por ser do Chico Buarque, esperei algo mais atemporal. Não, não estou falando que a peça é ruim. Mas é datada, o que atrapalha um pouquinho o prazer da leitura. De qualquer forma, não me senti perdendo tempo ao ler a peça: dificilmente sentirei que perdi tempo com alguma obra do Chico Buarque, creio eu.
Para quem ainda não sabe, Calabar foi um senhor de engenho na capitania de Pernambuco que resolveu se aliar aos holandeses quando estes invadiram o nordeste do que hoje é o Brasil. Por isso, foi capturado pelos fiéis a Portugal, durante a disputa pelo território com os holandeses, e morto como traidor. Isso, pra quem está perdido no tempo, aconteceu no século XVII. Três séculos depois, é discutida a ideia de que Calabar é traidor: e se ele realmente considerasse que os holandeses fossem fazer o melhor pelo território em disputa? E não é Calabar quem responde a essas pergunta, mas os personagens à sua volta: o senhor de engenho “traidor” não tem fala na peça. Aqueles que têm voz são seus delatores, sua viúva, outros personagens do episódio holandês no Brasil, como o próprio Mauricio de Nassau.
Para os autores, Calabar não era um traidor: ele acreditava que os holandeses fariam melhor do que os portugueses. Tese, aliás, bastante defendida no Brasil, diante do que Nassau nos deixou em Recife e Olinda e do que os portugueses nos deixaram. Traidores eram os delatores e executores de Calabar, por terem traído o mesmo, e sem motivos que não os egoístas: não há ideais entre delatores.
A meu ver, o melhor da peça são as personagens femininas, e suas relações com a guerra: Bárbara, que não se conforma de perder seus amantes um a um por conta dos conflitos. E Ana de Amsterdã, que a consola: pra que se importar com os homens, se eles vão morrer mesmo? Bárbara, que defende Calabar até o fim. Ana, que defende o seu prazer, sem se importar demasiadamente com os homens, antes propondo prazer também a Bárbara (já que os homens gostam mesmo é de homens…).
Escrevi no começo da resenha que a peça é datada. Pois é. MAS não é por isso que deve ser descartada a sua leitura. Muito se entende sobre parte do pensamento no Brasil na década de 70. As personagens são fantásticas, muito bem construídas. E a revolta contra a delação, marca da peça, é o que ela tem de mais atemporal – junto com a admiração pelo “Brasil holandês”, algo que perdura, três décadas depois. E ainda: as mulheres continuam sofrendo com a estupidez da guerra…
Nota: 4/5
Alinde, gostei de saber mais sobre Calabar. Sempre ouvi falar, mas ainda não tinha me detido no teor da peça. Adorei e fiquei superinteressada, e concordo com você, dificilmente se perde algo quando se trata de Chico. E essa coisa das personagens femininas é bem típico dele, que sabe como ninguém entender a alma feminina.
Gostei também da ideia de metas cumpridas, eu ando meio relapsa nisso, e vez por outra é preciso se disciplinar, caso contrário, não saimos do lugar.Ótimas dicas. Bjs.
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Alinde, estou feliz com o seu retorno. E a resenha veio em grande estilo. Por tudo que foi escrito, fiquei muito interessante em ler Calabar.
Bjs
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You couldn’t be more right on.
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