Há quinze anos, morria o ídolo da minha adolescência. Ou o mais próximo de “ídolo” que já tive: Renato Russo. Já não ouço Legião Urbana como ouvia quando adolescente, mas hoje não tenho como não ouvir Legião e não homenagear o Renato.
Sem medo de errar, posso dizer que a discografia da Legião é uma das trilhas sonoras da minha vida. Quando criança, adorava se tocava nas rádios – mesmo não sabendo que aquelas músicas era todas da mesma banda. Faroeste Caboclo, Pais & Filhos (sim, ela também), Quase Sem Querer, Índios, e por aí vai. Funcionava assim desde que passei a me entender como gente: se tocava uma dessas músicas eu fixava parte da minha atenção nelas e ficava bem satisfeita com isso. Com outras bandas também acontecia, mas, mesmo sem saber, Legião era a minha preferida. É, sempre gostei de músicas básicas de três acordes.
Renato Russo morreu quando eu tinha doze anos. Não lembro muito bem, mas tenho a impressão que o “auê” em torno da morte dele foi o responsável por eu finalmente perceber que Legião era a minha banda preferida da infância. Nos camelôs de perto de casa comprei minhas primeiras aquisições legionárias: fitas K7s piratas dos álbuns deles (abençoadas sejam as fitas K7 na minha vida – ainda não consegui jogar fora a minha coleção com cerca de 100 delas). A partir da coleção da Legião, e de reportagens sobre a banda e suas influências e contemporâneos fui (re) descobrindo o rock´n´roll. Sim, redescobrindo: o que aconteceu com Legião, de conhecer a banda reconhecendo as músicas, também aconteceu com Titãs, Paralamas, Nirvana, Led Zeppelin, Metallica… E assim infernizei a infância do meu pobre irmão, obrigado a ouvir muito Legião e Sepultura por conta de meu som nas alturas (devo ser um pouco responsável por ele ser mais de samba do que de rock… ).
Era fã de Legião não apenas pelo meu eterno amor às músicas simples e diretas. As letras também me chamavam para a banda. A melancolia típica de adolescente está lá. A revolta com as desigualdades sociais também. Ironia, sarcasmo. Amor (e não apenas o romântico). Além de todos esses ingredientes sempre lembrados quando se fala de Legião, as letras demonstram ainda a cultura do Renato. E um dos traços mais marcantes da minha personalidade é a curiosidade. Sendo um prato cheio para pessoas curiosas, amava as letras por fazerem referências a coisas até então desconhecidas por mim. Graças aos versos do Renato, descobri que existiram o grupo anarco-terrorista alemão Baader-Meinhof, a escola de artes alemã bauhaus, a banda inglesa Bauhaus, o poeta francês Rimbaud… A lista é grande. Mesmo tendo feito poucos covers, devo a descoberta, por exemplo, do P.I.L a um deles. E ainda outras bandas, descobertas graças a páginas do geocities em que se falavam sobre as influências das bandas de Brasília.
A adolescência passou, e com ela a minha sede de ouvir Legião ao menos uma vez por mês. O que não quer dizer que deixei de gostar. Como pôde-se perceber, a banda de Brasília me conecta com toda a minha vida, através das lembranças. As letras, por mais que não me identifique mais tanto com elas, ainda dizem algo sobre mim. Dizem ao menos sobre o que já fui. Quando ouço Legião, conecto-me com o que há de mais profundo em mim, o que me faz muito bem. E conto o dia de hoje, como exemplo do bem que Legião me faz. Estava desanimada, sem vontade de fazer nada. Lembrei que hoje é 0 aniversário de morte do Renato. Desliguei a internet, fui pro quarto, botei o primeiro álbum pra tocar. Antes do CD acabar, estava escrevendo o rascunho desse post, mais animada e pronta pra dar os próximos passos do dia.
Alguém pode (e certamente vai) perguntar: “…mas… Legiããão?? Aquela banda de letras adolescentes de músicas de três acordes?? Ainda???”. Nós, eternos fãs da banda, já ouvimos muito e ainda ouviremos essas perguntas. E respondo, por mim: sim, Legião merece essa minha homenagem e nenhuma outra. Porque nenhuma outra faz parte da minha vida como ela faz. E acho que infeliz é aquele que não tem trilha sonora para a sua vida. Eu tenho, e digo ao Renato, esteja onde estiver: MUITO OBRIGADO.
Ouvindo: Legião Urbana – V – O Mundo Anda Tão Complicado
Colocarei “O Mundo anda tão complicado” pra tocar assim que me casar e me mudar para nosso apartamento de casal!! hehe Sempre sonhei com isso!
Mas Legiãããoo?? Sim, Legião! Urbana Legio Omnia Vincit, e vencerá até mesmo o tempo.
As melodias eram simples porque eram isso que eles buscavam! Mas as letras eram complexas como somente um verdadeiro poeta poderia compor!
Renato será sempre atual, Cei! Se você soubesse quantos moleques de hoje curtem a banda, ficaria espantada!
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Fico feliz de saber que tem molecada nova curtindo. Sinal de que eu sempre estive certa sobre a atemporalidade de Legião. 😀
O que não exclui a chatice dos chatos 😛
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15 anos atrás eu tinha 7 anos e nem conhecia Legião. E eu também tenho uma ligação muito forte com a banda, que era sempre a escolhida pelos professores quando queriam passar alguma lição de vida que não poderia ser ensinada apenas com palavras.
Ainda hoje me emociono quando ouço Monte Castelo… =)
bjocas!
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Bela homenagem, Alinde.
E bela escolha: O mundo anda tão complicado é uma das minhas favoritas.
Adoro Legião. Adoro Renato Russo. Bjs.
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