Dia de continuar a luta

 

 

2343dia mulher

Estava eu achando que não ia escrever nada sobre o Dia Internacional da Mulher. Bem, estava enganada. Não sou a mais feminista que conheço, longe disso.  Estou longe de ser ativista. Aliás, não sou ativista de causa nenhuma. Acho que não tenho paciência pra isso. Mas nem por isso acho que o machismo é coisa resolvida. Não é. Vou falar apenas do machismo que eu, como não ativista, observo. E que já me revolta.

Vejo amigas que tem irmãos serem tratadas de forma diferente. Não por questão dos pais se darem melhor com o temperamento do irmão. Mas por verem mesmo uma diferença entre homens e mulheres – algo inconsciente, se perguntados nunca vão admitir. Mas sim, vejo isso acontecendo de forma flagrante.

Estou evitando, hoje, ver muita coisa no Facebook. Por duas razões simples: piadas machistas e mulheres seminuas. Vejam bem, homens: piadas NÃO SÃO inocentes. Elas servem pra desqualificar o outro. Então se você, homem,faz uma “piadinha” no dia em que mulheres morreram para ter condições de trabalho humanas, você está, sim, desqualificando as mulheres. Não se faz piada com mãe é por um motivo, né? Porque mãe é sagrado. Então, quando forem fazer piadas machistas hoje (e sempre), pensem assim: “poderia estar fazendo essa piada pra minha mãe ouvir?”. Se sua mãe não puder ouvir a “piada”, cale-se. Ou aguente patada. Segunda questão – mulheres seminuas. Feministas do mundo inteiro lutam para que mulheres não sejam mais vistas como objeto. Porque, homens, feministas EM GERAL não querem inverter os papeis. Querem igualdade de tratamento. E igualdade de tratamento significa que somos, homens e mulheres, seres humanos. Que a nossa relação não seja de um homem com um objeto sexual. Então, homens, nada de mulheres seminuas na minha timeline. Porque não se celebra o Dia da Mulher tratando-a como objeto.

O que vi hoje no Facebook foram o que amigas minhas compartilharam: bons textos masculinos nos homenageando. Um desses textos me lembrou outro motivo pelo qual ainda temos o que lutar. Começou falando de promoções varejistas do Dia da Mulher…. de panelas, fogões, aparelhos domésticos. Estamos nos anos 1950? Não, estamos em 2012. Vivendo numa sociedade tão não machista que nos ofertam ficar na cozinha no dia de lembrança do quanto precisamos lutar para chegarmos onde estamos. E o mesmo se repete no Dia das Mães. Publicitários, atenção: quer nos ofertar panela? Ok, mas também o façam no Dia dos Pais, porque a cozinha é franqueada aos dois, sim?

Alguns homens – alguns dos melhores deles – não entendem o porque do dia. Não estou falando de porcos chauvinistas, estou falando de bons homens que acham que já conquistamos muito e que não é necessário celebrar um dia em homenagem à luta feminina por igualdade. Sim, conquistamos muito. Votamos, trabalhamos, já não usamos roupas tão opressoras, etc etc etc. Mas ainda é necessária a discussão de uma lei para que não nos paguem menos com a desculpa de que – olha só – engravidamos e PODEMOS ficar um tempo de licença, tempo de prejuízo para a companhia. Uma sociedade em que uma lei dessas precisa ser discutida não é uma sociedade que trata igualmente homens e mulheres. Se tratasse, leis assim não seriam discutidas. A lei Maria da Penha também não seria necessária se tantas mulheres não sofressem estupros, espancamentos e demais violências dos seus maridos. Delegacias específicas para as mulheres não seriam necessárias se uma mulher, quando fosse estuprada, não teria ainda que ouvir “como você estava se vestindo no momento em que foi atacada? Tava de minissaia? De decote?”, entre outras perguntas meigas. Atenção, homens: se as mulheres fossem tratadas igualmente DE FATO, não seriam necessárias medidas legais para nos proteger de alguns dos seus piores espécimes do seu sexo.

Não gosto de discursos raivosos, então não vou fazer um texto só de problemas. Falemos então do que de bom tem acontecido. E vou falar dos homens mais importantes da minha vida, que me tratam com a dignidade que eu queria que todas as mulheres do mundo fossem tratadas. Do meu namorado que divide a cozinha comigo – ele cozinha, eu lavo (ODEIO cozinhar). Que trata a mãe dele com um carinho e respeito admiráveis. Do meu paidrasto, que no dia-a-dia nunca me tratou de forma diferente do meu irmão, filho dele. Que sempre me apoiou. Do meu pai, que durante toda a vida da minha madrasta dividiu as tarefas domésticas com ela, eles que não puderam pagar empregada. Que não trata as filhas de forma machista e patriarcal. Falo também do meu irmão que convive com minha TPM desde que comecei a menstruar, e que nunca me desqualificou por conta dos meus hormônios. É lindo poder falar que seu irmão, desde os 6 anos de idade (hj ele tem 22), sempre soube ficar mais quieto nesses terríveis dias.  Finalmente, agradeço e homenageio todos eles, que sempre incentivaram para que eu me tornasse uma mulher forte e independente. Se todos os homens fossem assim, como meus amores, o Dia Internacional seria um dia muito mais histórico, sem ser lembrança do quanto ainda precisamos caminhar. Mas já que não é assim, lutemos. Mas com ternura. Com reconhecimento dos avanços. Porque não gosto de lutar sem ternura. Sem doçura, ia me sentir declarando guerra. E não quero guerra, quero contribuir para, junto com os homens, construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Um comentário em “Dia de continuar a luta

  1. Texto lindo, e verdadeiro. Bem no seu estilo. Você não é tão agressiva como eu, mas fala verdades que são tão fortes quando as que eu digo. E eu achei tão pertinente o seu comentário sobre as fotos de mulheres peladas. Sim, somos sensuais, sim, gostamos de sexo, mas, gente, como o cara de um desses textos compartilhados no FB, hoje, falou: você sabe, pelo menos, o nome da mulher que você compartilha fotos de peitos, bunda, etc.? Suas irmãs e sua mãe você respeita, mas você não é capaz de respeitar a irmã e a mãe de outra pessoa?

    O mesmo serve para quem ESPANCA mulheres (gente, pelo amor de Deus, não me falem que violência contra a mulher não existe, não falem, mesmo, sobre o que não sabem). Você espanca a sua mãe? Além disso, há muitas maneiras de se cometer violência contra as mulheres, e elas não são só físicas, não. São psicológicas, também, e, por vezes, essa violência psicológica é tão castradora que consegue convencer à mulher de que ela é inferior, mesmo, e tem de agradecer ao marido por ele ser um homem caridoso que lhe concede teto.

    Eu só quero reforçar o que a Alinde disse sobre continuar a luta. Essa luta não é minha, não é da Alinde, não é só das mulheres, essa é a luta de TODO SER HUMANO, que acredita e luta por uma sociedade JUSTA.

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