O nome dessa resenha poderia ser: crie víboras na sua cama, mas não crie expectativas. O excesso de expectativas criadas a partir da importância da obra e da insistência do namorado para que eu lesse Camus quase estragaram a experiência. Quase. Mas a qualidade do conteúdo conseguiu se sobressair, apesar dos pesares.
E não foi apenas a expectativa exagerada que atrapalhou. Foi também o meu gosto por narrativas mais ágeis. O meu vício em personagens cativantes. E Mersault é muita coisa, menos cativante. Sujeitinho chato. E a narrativa, bem, é a história de como Mersault acaba matando um árabe e o seu julgamento. Nada espetacular. Para piorar a situação, o emprego da ironia, uma paixão minha em romances cotidianos, aqui é feito muito mais esparsamente do que eu gostaria.
Mesmo com todos os senões, o livro vale as quatro estrelinhas. É realmente muito bom. Não por ter uma narrativa envolvente. Não por ter um protagonista cativante. Aliás, paradoxalmente, é o Mersault que faz o livro ser tão bom. Ou melhor: o que pensamos sobre a vida, as relações sociais, as convenções humanas, a partir da relação dele com o mundo que o cerca. Também o enredo contribui, ao nos fazer refletir sobre como ser um estrangeiro em meio ao comum da humanidade pode ser fatal.
O livro só não leva a quinta estrela, de “excelente”, porque com todas a qualidade das reflexões provocadas, não consegui me apaixonar. Como não sou nada parecida com o Mersault e adoro me envolver, estrelinha a menos.