A Invenção de Morel, de Antonio Bioy Casares

Alguns anos atrás, li “Ficções”, do Jorge Luis Borges, e começou aí o meu interesse pela literatura argentina. Logo depois, fui a Buenos Aires, de férias, com namorido. Meu interesse pelos “hermanos” só aumenta a cada ano. Não só por eles, mas ironicamente graças a eles meu interesse pela América Latina é cada vez maior (ironicamente porque alguns portenhos acham-se europeus). Conhecendo Borges, chega-se inevitavelmente a um grande amigo seu, também argentino: Antonio Bioy Casares. Recomendavam-se mutuamente, Casares figura num conto de Borges, os dois fizeram uma série de contos de detetive juntos. Mas não foi através dos trabalhos conjuntos que cheguei ao Casares, foi através da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana (linda, aliás). Apaixonei por literatura fantástica com o Borges, continuo a paixão com Casares. Três anos depois da leitura do primeiro Casares, compro essa belezinha aqui, editada em homenagem ao centenário de nascimento dele (1914):

BIOY_A_CAPA.pdf

Esse volume tem seis livros dele, sendo o primeiro aquele que está no título desse post, “A Invenção de Morel”. Essa novela estava esgotada no Brasil, só sendo encontrada em sebos. É um dos livros mais famosos do Bioy Casares, e no início desse mês descobri o porque.

Pra quem não leu nada do autor, há uma característica comum a muitos dos seus contos: uma narrativa do cotidiano, com um quê de estranho, mas sem entrada ainda do elemento fantástico. Somos apresentados aos personagens e às suas vidas, com a estranheza adentrando esse cotidiano pouco a pouco, para só depois aparecer o mote do conto, juntamente com o elemento fantástico. Isso se ele não é o último a aparecer.

Em “A Invenção de Morel”, essa característica aparece. Somos apresentados a um fugitivo político, exilado numa ilha deserta no meio do oceano. O conto é narrado em primeira pessoa, e acompanhamos seu susto quando ele percebe que a ilha passa a não ser deserta. Acompanhamos então suas estratégias para não ser descoberto – afinal é um fugitivo – ao mesmo tempo em que ele tenta descobrir quem são e como chegaram ali. A maior parte do conto tem essa ambientação. Lentamente vão sendo introduzidos acontecimentos estranhos, nunca explicados. Pouco se sabe sobre a invenção até a segunda parte da novela, em que tudo é explicado e conhecemos então a natureza do artefato, assim como o mote da obra de forma completa.

Tenho consciência que escrevi pouco sobre a obra. Não sei se instigarei alguém a ler depois dessa curta resenha, mas tenho ainda duas coisas a dizer. A primeira é que se eu revelar mais do enredo alguns vão achar que já escrevi tudo, talvez a leitura torne-se desnecessária para alguns. A segunda é que recomendo fortemente a novela. Fica-se o tempo todo querendo saber afinal que invenção é essa, e quando ela se desvela, várias reflexões interessantes são provocadas. Só não vai ganhar cinco coraçõezinhos porque o suspense quase demorou muito pra ser desvelado (ou sou eu que estou me acostumando com narrativas ágeis demais? Fica a questão). ♥♥♥♥

LENDO:

Atlas Universal do Conto – org. Alberto Mussa e Stéphane Chao

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