Como a literatura me define

O @Ben_Hazrael, do Twitter, falou que porque o recomendei a fazer, ele escreveu esse post aqui, em que ele escreve sobre como a literatura pode ajudar a responder quem somos. Lendo o texto dele, resolvi fazer algo parecido. Ano passado, fiz uma listagem dos dez livros que mudaram a minha vida aqui. Nesse texto, alguns dos livros vão aparecer novamente, mas não em forma de lista, e outras obras serão mencionadas. E, a quem possa interessar, a lista continua a mesma. Não é sempre que se lê um livro que muda a sua vida. Vamos então ao post, bem pessoal porque não há como ser de outro modo.

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Sou uma pessoa sortuda, bastante. Uma das sortes da minha vida foi ter a minha mãe lendo pra mim antes de dormir quando era criança (quantas mães não podem fazer isso?). Foi ela que me apresentou ao Monteiro Lobato, e foi graças a essas leituras noturnas que aos cinco anos eu fiquei louca para entrar logo no “C&A”. Demorou um pouco para eu conseguir ler o Lobato sozinha, mas quando fiz, reli a obra completa várias vezes. Pessoalmente, Monteiro Lobato era racista. Sua obra tem muito de racismo. Quando criança já me incomodava a Emília chamar a Tia Nastácia de beiçuda (fui criada num lar em que racismo é inadmissível). Sua obra tem outros problemas, machismo entre eles. Mas… tem sempre um mas, né? Foi a leitura e releitura constante das suas obras que me definiu como uma pessoa leitora. A Turma da Mônica contribuiu, outros infantis também. Aliás, quase quis biologia por conta de alguns livros ecológicos que li (o primeiro deles, lido aos 6 anos, é inesquecível até hoje). Mas o “História do Mundo para as Crianças” juntamente com os livros que têm a mitologia grega como tema iniciaram a minha paixão por História. Obviamente, não defini com 10 anos de idade que iria ser historiadora e professora. Mas a paixão começou aí – aos 10 anos fiquei louca para ter História separada de Geografia. Culpa da literatura.

Para mim, História e Literatura são intrinsecamente ligados desde os primórdios da minha vida. A literatura impulsionou meu interesse por História, e algumas leituras feitas recentemente despertaram interesses por histórias locais que até então não tinham despertado meu olhar. Quando leio algo de algum lugar que não tinha até então despertado minha especial atenção e essa literatura me apaixona, automaticamente me interesso por esse lugar como nunca antes. Poucas são as pessoas que se interessam por América Latina na faculdade de História. Não fui exceção. Passei pelas disciplinas de América por pura obrigação. Quando fui me interessar pelos nossos hermanos? Quando me apaixonei pelo Jorge Luis Borges – e depois confirmado o interesse ao visitar Buenos Aires, mas o Borges veio primeiro. O mesmo aconteceu com a África, com o Japão. Aliás, vamos à cronologia: o Japão veio primeiro, por conta dos mangás. Primeiro os mangás, depois a literatura e a História. Continuo sabendo pouquíssimo da história deles, mas tudo que pouco sei fui conhecer por causa da literatura (ai de vocês se comentarem que mangá não é literatura). O responsável para eu começar a querer distinguir os países africanos através da literatura foi o Mia Couto. Quando comecei a estudar História da África para cumprir a lei de ensino da história e cultura africanos e afro-brasileiros, já comecei com uma motivação a mais. Ocorreu também o caminho inverso: comecei a me interessar por cultura árabe e por cultura islâmica (não são a mesma coisa!!) por causa do meu interesse pela história do Oriente Médio. Interesse motivado pela ânsia de conhecer outra história deles além  da “terroristas malvados que comem criancinhas” (vejam todos o vídeo da Chimamanda Adichie sobre o perigo de histórias únicas! Sensacional! Mas divago…)

Vamos agora à parte mais pessoal de todo o post: a literatura e a música dividem o posto de meus maiores aliados para superar momentos difíceis. Desde criança. Certa vez, quebrei a maçaneta do carro do meu tio. Morava numa vila, adorava brincar com as outras crianças (fui BEM moleca) e fiquei um mês de castigo por conta da travessura. Superei quase facilmente esse mês: ele passou bem mais rápido porque professores não trancam os livros de seus filhos.  Anos depois, em 2007, tive o pior ano da minha vida. Só quem é muito próximo sabe o que passei. O ano seguinte, o da superação, teve como grande ajuda para a recuperação minhas lindas graphic novels (nome besta para quadrinhos-para-adultos): Will Eisner (Nova York e O Nome do Jogo),Marjane Satrapi (Persépolis) e Art Spiegelman (Maus), seu lindos, como vocês me ajudaram. Graças a essas HQs fantásticas lembrei que existem outros problemas, outras pessoas, outros mundos no nosso planetinha. As leituras foram feitas há sete anos, mas posso dizer até hoje o que cada uma delas me encantou. São textos fantásticos, não foi o fato de eles terem me ajudado que me faz menos crítica em relação a eles. A meu ver, obrigatórios para todos que gostam de refletir sobre nosso mundo.

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Não sou a maior leitora que conheço. Muito longe disso. Minha média de leitura anual dos últimos tempos é de cerca de 25 livros. Conheço gente que lê 70, 100 livros por ano. Alguns lendo de forma muito proveitosa, diga-se. Sei o tamanho gigantesco da minha ignorância literária. Mesmo assim, não paro de falar o quanto amo ler. Às vezes acho que fico até meio chatinha (especialmente no Facebook). Pudera: grande parte do que sou, grande parte dos meus interesses, se definem a partir da literatura. E, ao mesmo tempo em que é meu meio escapista preferido, é também um dos grandes alicerces da minha percepção sobre o nosso mundo mundo vasto mundo. Não compreendo a minha vida sem a literatura, mesmo quando estou lendo pouco: ela faz parte de mim de forma visceral.

LENDO:

“Universo Desconstruído: Ficção Científica Feminista” – vários autores. ~> Não sou muito entusiasta de obras de arte com finalidade social explícita, finalidade que chega ao receptor antes mesmo da obra. Prefiro panfletos a obras possivelmente panfletárias (sim, acho o feminismo necessário no mundo todo e sim, leio textos feministas). MAS o livro tem-se mostrado interessante: são histórias de ficção científica com futuros sociais pouco imaginados até agora. Simplesmente isso. Pouquíssimo panfleto. Recomendo 😉

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